Bandeira nacional ou as cuecas de Neymar
Enviado por Nairo Alméri – sáb, 12.7.2014 | às 23h27
A dívida direta que ficará para a Viúva (Tesouro Nacional)
pagar, com a realização do Mundial de Futebol, da Fifa, que será encerrado com
o jogo na tarde deste domingo, do qual sairá campeã a Argentina ou Alemanha, supera
US$ 12,5 bilhões de dólares. Essa é a conta do estimada pelo Planalto. Mas é questionável,
quando o Governo do Estado do Mato Grosso informa que sua fatura é de US$ 4
bilhões, para ser liquidada em 30 anos.
Nesse naco do “legado” da Copa, figuram estádios construídos
(alguns com falhas operacionais e depredados) e reformados com históricos negativos
mais variados, incluindo acidentes e mortes; avenidas semiacabadas, viadutos
ainda em obras e alguns condenados - um caído, semana passada, em Belo
Horizonte; escândalos de direcionamentos e superfaturamentos em estádios - Maracanã
e Mané Garrincha; avenidas e aeroportos inacabados - Confins, para o qual a
estatal Infraero anunciou uma “tapeação”; etc.
A seleção de Felipão não está na final, de amanhã. Deixou
uma página vergonhosa para aqueles que têm no futebol o centro de suas metas,
superando, às vezes, o lazer de domingo, a família e os problemas (contas) da
segunda-feira. O time que representou o Brasil se desfez ontem. Os jogadores,
donos de milionários contratos (salários e publicidades), foram para suas confortáveis
vidas, para bem longe das quatro linhas de nossos históricos problemas crônicos:
inflação descontrolada, pibinhos trimestrais, engessamentos da indústria,
escândalos de roubos na administração pública e em estatais, que se renovam e
que dão em nada, mesmo quando passam pelo balcão dos togados (antes temidos e
respeitados capas-pretas) do Supremo Tribunal Federal (STF).
Por aqui, os nós de nossa economia serão, como sempre, abafados
sem variar o script: anúncios do Governo de descobertas de poços de petróleo
(descobertos sabe-se lá se com gastos superfaturados!) pela Petrobras (que
chafurda em lama, mas sobre a qual ela própria faz uma caiada), de novas linhas
do BNDES, de mais prorrogação na renúncia fiscal do IPI para as vendas de
automóveis – returbinada na perversa política de consumo.
Vergonhoso para uma Nação não é uma derrotada do time de
Felipão de 7 a 1, para a Alemanha. Mas receber algumas centenas de milhares de
turistas de países desenvolvidos ou de fibra, como os chilenos,
costa-riquenhos, colombianos e argentinos, e não se deixar contagiar um pouco por
aquilo que fazem de positivo em seus países. Dá nó no cérebro testemunhar uma
nação inteira aceitar calada a presidente Dilma Rousseff (que quer esquecer a
Copa – não ser vinculada à derrota) anunciar, em meio às estatísticas de novos
fracassos, que só tratará as questões econômicas em 2015. Ou seja, se for reeleita.
Para ela, importante, neste momento, será “tapear” (saída da Infraero) e
camuflar a brisa do maremoto que bate em nossas costas. Ao Planalto, até
outubro, só interessará os palanques e lavagem cerebral de que o país vive uma
guerra de ricos contra pobres. E o pior é que os militantes entram diariamente
nas fábricas absolutos de que o país será melhor com aqueles que lhes dão
empregos derrotados, destruídos!
E o Planto vai se valer de todo o potencial do poder que
exerce sobre a mídia (90% noticiam os anúncios e releases do Governo; 80% dos
jornais, rádios e TVs não questionam), via anúncios, para esconder o verdadeiro
“legado” da Copa, a dívida direta de US$ 12,5 bilhões (cálculo oficial), criada
com a realização do evento da Fifa. O discurso político do Partido dos
Trabalhadores (PT), principalmente nas redes sociais da internet, tem sido e
será o da negação das falências na assistência pública federal, estadual e
municipal; do ensino público fundamental e médio; do sistema de transporte; da
segurança; etc.
Os políticos, de todos os partidos, da tal base aliada e da
oposição, são coniventes com esse caos. É ele que renova suas promessas de
palanque, a cada dois anos. Uma prova de que o PT não é culpado sozinho é o
fato de toda oposição (no Congresso, Assembleias Legislativas e Câmaras Municipais)
também votar unânime os aumentos absurdos dos próprios salários, hoje acima de
R$ 130 mil mensais (no Congresso). Enquanto isso, a classe trabalhadora depende
de julgamentos de dissídios, recebendo da Justiça do Trabalho índices que mal
empatam com a inflação acumulada no período.
Vergonhoso é ler o artigo “Dilma x Dilma”, do respeitado economista
Eduardo Giannetti da Fonseca, publicado na página 2 do mais crítico e
importante jornal diário do país, a “Folha de S.Paulo”, mostrando que o Brasil,
no período Dilma, 2011-14, terá apenas 65% do crescimento registrado na América
Latina, e isso não provocar a menor reação da sociedade esclarecida. E
vergonhoso o país montar palco para dois economistas e ex-ministros da Fazenda com
históricos que em nada contribuem para tirar o país das crises. Um é Antônio
Delfim Netto, que serviu a dois governos da ditadura militar. Mesmo assim, foi
aceito como conselheiro do Governo Lula e, hoje, dá pitacos para Dilma – exercita
em artigos para “Folha”. O outro, Maílson da Nóbrega, serviu ao Governo Sarney :
assumiu a pasta da Fazenda com a inflação mensal nos 15% ao mês e entregou com
81%. Até pouco tempo, em artigos na “Veja”, dava sustentação ao PT.
A conclusão, para quem não quer passar tempo discutindo sexo
dos anjos, é simples, elementar e aos olhos do mundo: não ficou legado algum da
Copa. Pois, deve-se entender por legado algo de bom, de construtivo! Perguntem,
logo mais, no Maracanã, a chanceler alemã, Angela Merkel, se o seu povo aceitaria,
por uma hora apenas, 10% de nossos políticos com mandatos para decidir
plantação de jabuticabas na Alemanha!
Hastear as cuecas de Neymar
E junte-se ao “legado” da Copa, a babaquice de expressiva
parte da imprensa esportiva do país no trato com os jogadores de futebol. É
lamentável ler, ouvir e ver jornalistas paparicando esses atletas. Tratando-os
como se fossem crianças, que precisam ser eternamente mimadas. Dá nojo. Agride ouvir
e ler babação de ovo - crônicas melosas, barrocas .
Por pouco não chegamos aos absurdos ver as cuecas de Neymar hasteadas
no lugar da Bandeira Nacional, na entrada da Granja Comary, em Teresópolis. Ou
talvez, ver nas ruas, desfraldadas nos veículos maquiados das empresas de
jornais, rádios e TVs. Ainda, virando dissertação em prova do Exame Nacional do
Ensino Médio (Enem), que qualifica os candidatos ao ingresso no ensino superior
público.
Fomos salvos pelo tsunami dos 7 a 0 (zero, mesmo, não um ó), vindos da Alemanha.
Mesmo assim, a imprensa esportiva não abriu mão de viúva de
Neymar. Foi assim, desde a saída do atleta, na partida contra a Colômbia, com uma
vértebra quebrada, passando pelas cinzas despejadas pelos alemães, até o
velório de gala, hoje, com os 3 a 0 (zero) da Holanda. Talvez, os jornalistas esportivos
mudem de postura, no momento em que uma pancada do bom senso abrir suas
cabeças.
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