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quarta-feira, 8 de maio de 2013

Empreiteiras e o Governo de R$ 1,6 trilhão


Enviado por Nairo Alméri - quar, 8.5.2013 | às 21h35 - Modificado em 14.5.2013 | às 11h43
Na história do Brasil, em todo o século XX, empreiteiras da construção pesada (exceção para o Grupo Mendes Júnior, a partir da segunda metade da década de 1980 – o caso é contado em livro) e Governo nunca se sentaram em bancos opostos, perante a Justiça, por uma grande causa. Isso porque a relação cliente (Governo) e fornecedor de serviços (empreiteiras) era a mola da economia. Neste século, o Governo continua o grande cliente para o setor, mesmo com expressiva fatia da infraestrutura (transporte, energia elétrica, telecomunicações, mineração e financeira) e praticamente toda produção de aço do país, que era estatal, transferida à iniciativa privada a partir dos intensos leilões de ativos públicos produtivos, tendo como referência a oferta final da siderúrgica e florestas homogêneas do Grupo Cimetal Siderurgia, em Barão de Cocais, MG, em 1988. Em fins dos anos 70, mais de 60% da economia produtiva do país estavam em poder da União. Juntando os Estados, o índice estatal superava os 80%. E o empresariado, em geral, reclamava da máquina estatal, principalmente porque os preços das tarifas e produtos básicos de consumo e matérias primas e semiacabados para manufatura eram controlados pelo Conselho Interministerial de Preços (CIP). Em tese, a iniciativa privada, incluindo as empreiteiras, implorava por um livre mercado com a saída do Governo – o que deveria implicar, também, no fim de centenas de benesses fiscais.

Escondendo banda podre
Mas as transferências de ativos da União para a iniciativa privada não rompeu a cultura centenária do gosto do empresariado nacional pela caridade pública – uma forma de não correr riscos. E, depois das privatizações de ativos públicos, diga-se de passagem, financiadas pelo próprio ex-dono, via Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que teve de ser socorrido pelo Tesouro Nacional, com capitalizações sequenciais (mais de R$ 200 bilhões, desde 2003), o país chega ao paraíso desenvolvimentista da Era dos PACs 1 e 2  (Programa de Aceleração do Crescimento). O PAC 1 surgiu em janeiro de 2007. Depois do PAC 2, vieram as dezenas de Paquisinhos – descarregados do programão, porém bilionários para a conta pública, como nos temos do “brasil grande”, período da ditadura dos generais. Diante de fracassos e fiascos contabilizados, a cada levantamento dos PACs, o Governo optou por fazer uma embolada: junta aquilo que é tocado pela iniciativa privada, ou que tem financiamento, deixando visível na sua conta (na televisão) apenas o que dá votos nas urnas: PACs da Copa, Olímpiadas e Minas Casa, Minha Vida. E quando estes são tropeados, coloca a Petrobras em campo, com a mídia de investimentos de US$ 264 bilhões, que abafa outros bilhões em perdas de resultados anuais da petroleira.
Nesse cenário de relações do Governo com a sociedade, historicamente (desde Pedro Álvares Cabral) carregada de fisiologismos e casuísmos, a iniciativa privada que trabalha para projetos de infraestrutura faz planejamentos como e quando pode (quase que sempre espera por uma mamata – um pacote de bondades). Mas, até mudarem de postura, as empresas da construção, em geral, continuarão reféns dos PACs, que, conforme a pesquisa “Principais Investimentos em Infraestrutura no Brasil”, da Sobratema – Sociedade Brasileira de Tecnologia para Construção e Mineração, são absolutos em 8.948 projetos em 17 unidades da federação em estágios de início, andamento e conclusão, para o quinquênio 2013-2017. Estão na estatística os PACs diretos da União (Tesouro Nacional) e aqueles em parcerias com Estados e municípios (e independentes destas duas últimas áreas), de estatais e da iniciativa privada. A conta dos 8.948 projetos, a presentada hoje, em Belo Horizonte, pela Sobratema, fecha em R$ 1,6 trilhão.

Crescimento será estatal
Para chegar aos números, a entidade, que representa mais de 1 mil associados entre entidades profissionais no país e fora, empresas usuárias, fabricantes de equipamentos e prestadores de serviços, assegura que a pesquisa “coletou dados de carca de 1.200 fontes primárias e secundárias”. O peso do Plano Estratégico quinquenal da Petrobras (renovado a cada ano – o atual é de US$ 264 bilhões) tem peso naquele bolão trilionário dos investimentos, pois (direta e indiretamente) em quase 80% (o percentual não é da pesquisa da Sobratema) dos R$ 720,8 bilhões para combustível e petroquímica, pois a estatal é a maior carteira demandadora em contratos em para gás e óleo, plataformas on shore e off shore, navios petroleiros, rebocadores e plataformas, refinarias etc.). Só aí, observa o consultor da Sobratema e responsável pela pesquisa, Brian Nicholson, estão 45% dos R$ 1,6 trilhão.
O consultor esteve em Belo Horizonte, juntamente com o vice-presidente da Sobratema, Eurimilson Daniel (do segmento rental), para apresentação da feira máquinas e tecnologia Construction Expo 2013 – 2ª Feira Internacional de Edificações e Obras de Infraestrutura, de 5 a 8 de junho, no Centro de Exposições Imigrantes, em São Paulo, que tem expectativa de receber 25 mil visitantes do país e exterior em visitas de negócios e participação dos painéis e salões temáticos do Construction Congresso – Edificações e Obras de Infraestrutura. Em área de 50 mil m2 serão apresentados lançamentos em equipamentos, materiais e serviços para diversos nichos da construção – rodovias, ferrovias, portos, aeroportos, metrôs, estádios de futebol, pontes, acessos, terminais de cargas, estaleiros, energia (hidráulica e eólica) oleodutos/gasodutos, estruturas metálicas, edificações, empreendimentos industriais, universidades etc.

Fatores de risco
Muito realista em suas análises, Brian Nicolson, ex-correspondente da imprensa européia, fundamenta análises para as projeções do período 2013-2017 em cima de estatísticas mais palpáveis hoje. O boom para projetos como os listados entre os 8.948 pode ter parâmetros nos gráficos que o consultor apresenta para o crescimento do “Mercado de equipamentos” (Sobratema – Estudos de Mercado 2007-2012), que inclui a chamada “linha amarela”, equipamentos de manuseio, caminhões rodoviários e tratores agrícolas e da construção.
Em 2007, a frota cresceu 34.521 máquinas, sendo 11.691 exclusivamente para movimentação de terra. Em 2011, respectivamente 83.545 e 34 mil. Mas, em 2012, registrou quedas de 18,6% e 2,9%. Nas projeções para 2013, o mercado total será de 76.080, sendo 33.550 para movimentação de terra e, em 2017, 111 mil e acima de 40 mil.
Fiel à linha realista, Brian Nicholson expõe “fatores de risco até 2017”, que poderão inibir a expansão do mercado brasileiro de equipamentos de construção. Na área interna, investimentos aquém do necessário para infraestrutura, PIB não correspondendo às expectativas, gargalos (notadamente na demanda por mão de obra especializada), “incapacidade política de avançar projetos na velocidade necessária”. Mas lista, também, o “lado positivo” no país: existência de projetos, pois o há carência de infraestrutura, e a probabilidade de não faltar recursos para projetos viáveis. E, fora do país, o consultor da Sobratema aponta dois fatores “possíveis”: queda na demanda global por commodities e clima generalizado de insegurança internacional.
Brian Nicholson sugere ao empresariado posicionamento de reflexão mais apurada nas decisões, sem se deixar levar por discursos paralelos que o Governo cria quando quer reverter curvas críticas. Ele se valeu notícias de a “Folha de S.Paulo”, de 7 de abril e 5 deste mês, para os atrasos no pacote de R$ 85 bilhões destinados às concessões de ferrovias e rodoviárias. A ministra da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, quis minimizar ao declarar que haverá efeito “indireto” (positivo) sobre o Produto Interno Bruto (PIB) de 2013 e 2014. “Efeitos indiretos. Você é PIB indireto? Vocês vão trabalhar em PIB indireto?”, indagou.  

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