terça-feira, 6 de agosto de 2013

Banco Rural no horário político

Enviado por Nairo Alméri – ter, 06.8.2013 | às 6h47
Agosto foi implacável com o Banco Rural. A decretação de liquidação extrajudicial, pelo Banco Central, não tirou de cena apenas uma instituição que estava pendurada num dos maiores escândalos de corrupção política já sabidos na História do Brasil – desde Pedro Álvares Cabral -, o chamado “mensalão do PT”. O caso explodiu em maio de 2005, quando a revista “Veja” publicou fotos um diretor dos Correios, Maurício Marinho, recebia maços de dinheiro de empresário. Mas a primeira denúncia dessa jazida de corrupção, envolvendo o PT e o PTB, data de setembro de 2004, feita pelo deputado Miro Teixeira (PDT-RJ), que apontou “esquema” de pagamentos, na Câmara dos Deputados, para garantir a votação de matérias do interesse do partido governista e do Palácio do Planalto. Pelos autos dos processos e votos dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), a liquidez financeira do “mensalão” girava numa engenharia orientada principalmente no Diretório Nacional do PT, Casa Civil da Presidência da República, agência de publicidade SMP&B (do empresário Marcos Valério) e escritórios do Rural. A partir de então, sempre que as citações “mensalão” ou “esquema Marcos Valério-PT” entravam no noticiário e sessões da Justiça, em todas as instâncias, o banco sofria um leque de erosões em seus ativos. O esquema tem novo round agendado, no STF, Câmara dos Deputados e Palácio do Planalto para este mês – o mês de grandes azares políticos na história do Brasil.  

O defunto é, mesmo, do BC?
Um ditado mineiro (ouvi, a primeira vez, do jornalista Adriano Souto) afirma: “Atrás do morro, tem morro”. Trazendo cenários para a liquidação do Rural, ignorando os efeitos da corrosão política, desde 2005, e dando ênfase apenas aos ditos descompromissos com a autoridade monetária (o BC), a impressão é a de que o Governo Dilma deseja transformar em defunto o duto da corrupção do mensalão do PT. Na Justiça, morto sai do processo. Mas, se for mais um lance político, o Planalto poderá repetir trapalhadas recentes, quando pirou diante da revolta das roletas (tarifas de ônibus): corroborou com os prefeitos de São Paulo (PT) e do Rio (PMDB – principal aliado), que as passagens tinham preços justos; sacou da cartola um plebiscito e um referendo, em vez de abrir discussão ampla com a sociedade por uma reforma política, ao perceber que as manifestações das ruas comeriam o fígado de todos os políticos; mandou o PT e a CUT se misturar aos jovens insatisfeitos, quando diziam que o movimento não tinha partido; contra-atacou opositores do programa “Mais médicos”, com dois anos no curso de Medicina; mesmo sob chuva e sobre um mangue (criminosamente aterrado), insistiu com planos de deslocamento de tropas das Forças Armadas para o “campo da fé”, em Itaguaí, no Rio, onde o para Francisco compareceria, quando deveria ter impedido uso da área (o que aconteceu faltando poucas horas) antes mesmo de o chefe do Vaticano tocar o solo brasileiro. O Governo teve que recuar geral em tudo. A questão é: apenas o Rural descumpria, até sexta-feira (2), a cartilha do BC, ou este aceitou enterrar defunto alheio?!... Resposta: É óbvio que dirá que o falecido está na sua cota. Mas... o BC não poderia ter feito isso há muito tempo, no auge da crise para o para o Rural? A sua saída de cena neste momento (horário) político gera questionamentos também óbvios.

Lehman Brothers, só motivos financeiros
No próximo 15 de setembro, o mundo financeiro vai lembrar o 5º ano de saída de cena daquele que foi o mais antigo (fundado em 1850) e o 4º maior banco de investimentos dos Estados Unidos, o Lehman Brothers Holding Inc. Ele sucumbiu ao tsunami da quebra das administradoras de hipotecas de alto risco do mercado imobiliários dos EUA, as subprime, em 2008. A crise, a bem da verdade, teve início em meados de junho de 2007, mas dava sinais desde 2003. Porém, não foi levada a sério pelo Federal Reserve (FED – o banco Central dos EUA). O desleixo da autoridade monetária norte-americana patrocinou a maior crise financeira do planeta. Em 15 de setembro de 2008, o bancão pediu sua concordata. Até se render, o Lehman teve um purgatório de seis meses, a partir do vazamento de que corria atrás para cimentar rombo de US$ 5 bilhões – US$ 7,5 bilhões na véspera da quebra. A ladeira ficou lisa para o banco, na fase mais aguda da crise para as administradoras imobiliárias, quando teve sustentar elefante e fio de teia de areia: tinha subsidiárias com carteiras de títulos derivativos de hipotecas imobiliárias com invejáveis US$ 54 bilhões. Em derivativos (títulos diversos sem garantia dos governos e sem seguros; opções de opções; etc.), na época, todas as bolsas do planeta e balcões de negócios de títulos giravam US$ 62 trilhões (uma pirâmide de papéis). O Lehman não foi salvo porque o FED tinha outros pacientes mais graves e estratégicos do sistema financeiro para curar: federalizar a maior seguradora do país, a AIG, onde injetara US$ 80 bilhões, e duas administradoras hipotecárias, a Fannie Mae e a Freddie Mac. Estas empresas respondiam por US$ 12 trilhões no mercado hipotecário local - quase 50% de tudo. Como o Bank of American, por sua vez, optara por salvar o banco Merrill Lynch (US$ 50 bilhões), diante da recusa do FED em colocar recursos no Lehman, o velho banco jogou a toalha. No dia dessa quebra, o FMI emplacou que na cratera financeira do mundo cabia com folga o PIB dos EUA: US$ 10 trilhões.

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