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sexta-feira, 28 de junho de 2013

Microfone para Nelson Tucci

Enviado por Nairo Alméri – sex, 28.06.2013 | às 11h24 - alterado às 21h42
"As exceções não deslustram a vitória popular". A lucidez é parte do olhar crítico de um notável debulhador dos fatos do cotidiano que competem à imprensa, que, em Brasília, tem batido pernas entre o Governo e a opinião pública. O jornalista Nelson Tucci, de São Paulo, coloca sobre os ombros dos governantes (do modesto vereador do grotão a presidente Dilma Rousseff) o que mais desejam defenestrar no momento: o peso exato das suas responsabilidades nas toneladas de mudanças exigidas nas ruas. No artigo Fim do primeiro ato. Desce o pano” – no “Plurale em site, ele limpa as lentes propositadamente embaçadas por aqueles que julgam ter recebido nas urnas (às vezes, por meios escusos) o registro de posse da Nação. Posse do sentimento do povo.
Os atos conjuntos do Planalto e partidos da ‘base aliada’ do Partido dos Trabalhadores (PT), além de todas as estruturas das administrações públicas executivas e dos legislativos, nas três esferas (União, Estados e Municípios), para eleger o vandalismo (ainda não esclarecido, pois seus pelotões agem de forma ordenada, comandada e com estratégias que o banditismo comum não adota) a vedete dos manifestos. O Governo tira plantão com propósito sabido de desacreditar protestos legítimos. Mas o verdadeiro vandalismo, com suas mil faces, que o pessoal de Brasília não quer enxergar, está nas ruas não é de hoje. Visto somente agora, o vandalismo social, político e ético é bem anterior a este 6 de junho. Ele não é alquimia do primeiro do grito da rapaziada do Movimento Passe Livre (MPL).

Os vandalismos em todos os poderes da República

O vandalismo está no comércio e consumo de drogas à luz do meio-dia, dentro e fora das escolas – públicas e privadas; na liberdade de ação de traficantes, chefes de milícias etc. Os senhores do crime se movem como se possuíssem Alvarás de Localização das prefeituras, renovado a cada janeiro, para seus negócios. Alguns deles recebem mimos das autoridades, são conhecidos e não combatidos de fato – garantem a maior festa popular anual do país, o Carnaval. Transitam na sociedade como ilustres CEOs de uma grande companhia ou grupo econômico.
A vida tirada de um pai, às vezes, na presença do filho criança ou vice-versa (São Paulo, noite de quinta-feira para hoje), é produto de um vandalismo que cresce à sombra  de um Estado inoperante no combate ao crime. Cidadãos também morrem por terem menos de R$ 30 para entregar aos bandidos. É também vandalismo a liberdade assegurada (na Lei Seca) para quem, ao volante de um veículo, tira vidas e paga fiança. É vandalismo, ainda, o rigor da lei apenas para pé-de-chinelo, para o Zé Povinho. É também vandalismo contra a ética a fortuna que senadores, deputados e ministros dos tribunais superiores edificam com aumentos absurdos em seus contracheques, pagos com impostos públicos. 
Esses e outros vandalismos estão aos olhos de todas as autoridades públicas – nos executivos, legislativos e judiciários. E não é de 6 de junho para cá.
Há, sim, um aspecto político (partidário ou de caráter assemelhado) na persistente presença de bandidos de rostos cobertos, que surfam no tsunami deste basta às autoridades públicas que aí estão.
Os bandidos que, nestes dias, dão um plus nas transmissões ao vivo das tevês, têm como maior aliado o descaso dos órgãos públicos que deveriam combatê-los. E, em segundo, a certeza da soltura (e, na maioria das vezes, sem precisar de fiança) após o Boletim de Ocorrência (B.O.), pois as cadeias não têm como acolher criminosos do cotidiano e da turma do colarinho branco. Por vezes, alguns marginais saem das Delegacias de Polícias, pela porta da frente, bem antes dos PMs que os levaram. Os policiais ficam ocupados com B.O.s inúteis, que só consomem tempo, tinta e papel.
O vandalismo está nas políticas para escolas públicas e hospitais; nos atos de aposentadorias (com salários da ativa) de desembargadores flagrados em delitos; nas fichas de inscrições aceitas pelos TREs de candidatos a mandatos eletivos condenados ou respondendo processos; nos desvios e superfaturamentos nas obras públicas; nos propinas pagas em licitações ...  

Bode velho, desdentado e babão no colo

Nelson Tucci, que ainda conta até dez e entende bem o dito popular mineiro que “atrás de morro tem morro”, serve uma só opção para o café da manhã, almoço e jantar da presidente Dilma, de seus 40 ministros, 81 senadores, 513 deputados federais, 27 governadores, 1.059 deputados estaduais, 5.563 prefeitos e 52.137 vereadores: limpeza de ouvidos e os olhos, cabeça para fora da janela e rendição incondicional às mudanças reclamadas.
Os políticos estão com um bode velho, desdentado e babão no colo. Ele vai feder. E muito. Será assim por todas as manhãs, tardes e noites. Daqui até as eleições de 2014. A presidente, ministros, governadores, senadores e deputados não conseguirão terceiriza-lo, nem com as manobras de colocar seus partidos e CUT, MST etc. nas ruas para deslegitimar um povo vitorioso, que saiu das quatro paredes e desligou os telejornais chapas brancas. Os jovens não querem ser pautados por enlatados do Planalto e periferia que lotearam o noticiário das oito da noite. Estão saturados dos leads oficiais de mesmo sujeito: "o governo anunciou", "o Governo decidiu", "o Governo está descontente", "o Governo vai baixar medida", "o Governo está preocupado", “a presidente Dilma Rousseff recebe apoio de aliados”...
Essa rapaziada cansou também de tantos sindicatos e centrais sindicais pelegos, e da própria União Nacional dos Estudantes - a UNE. Não tolera mais o empresariado cordeirinho na relação com o Governo, cujo limite da visão de futuro é a barreira das "desonerações", e que não exige medidas estruturais. Não há mais como fechar os olhos para unânime revolta, que, no mesmo segundo, faz coro entre avós, pais e filhos. Nelson Tucci põe, de forma sutil, pimenta mofada no café dos políticos com o “M” maiúsculo na palavra movimento: "O Movimento, afinal, era de todos e todos da rua gritaram porque do jeito que está não dá pra ficar". 

2 comentários:

  1. Amigo Nairo, sinto-me lisonjeado com suas citações e pertinentes comentários fazendo uma leitura extraordinária daquilo que eu disse. Receba meu voto de gratidão e sincero abraço. E, juntos, haveremos todos de construir deste um País melhor!
    Abs,
    NT

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  2. Lindo texto Nairo. Você disse o que sempre quis dizer e por isso lhe agradeço. E esta sensação de fazer parte de um grupo, de um grupo grande, afasta de vez a solidão da cidadã brasileira Lilian.

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