Enviado por Nairo Alméri - sáb, 01.10.2016 | às 22h14
Quem será o pai do filho feio social que encarna a
fotografia de uma nação com 12 milhões de desempregados? O presidente da
República, Michel Temer (PMDB-SP), recusa-se a constar na certidão como
responsável. Não aceita ser nem pai biológico nem padrasto.
“Chegamos a 12 milhões de desempregados; não foi culpa
minha”. Foi essa a melhor mensagem encontrada pelo Sr. Michel Temer (PMDB-SP),
dia 30 de setembro, diante das novas estatísticas do desemprego no país em
todos os setores.
A Nação deveria ter reagido espantada com tamanha cara de
pau, e mostrado o DNA do chefe do Planalto quase que suficiente para pintar de
avô nesse cenário dramático.
Sempre ciscando no poder
Vamos ver, então, na linha do tempo do político Michel Temer
alguns tópicos de seu envolvimento direto com o Poder:
- para exercer mandato, entrou na Câmara dos Deputados pela
primeira vez (assumir como suplente) em 16 de março de 1987. Ficou ausente de
1991 a 1994 (exerceu cargos no governo de São Paulo). Novamente, na condição de
suplente, assumiu novo mandato, em 1994, e conseguiu a reeleição;
- líder do PMDB na Câmara, 1995;
- presidiu a Câmara dos Deputados, 1997/2001 (eleito dois
mandatos, com apoio do presidente da República, Fernando Henrique Cardoso,
PSDB-SP); 2009 a 2010 (eleito com apoio do presidente da República, Luiz Inácio
Lula da Silva, PT-SP);
- em 2001, foi presidente da Comissão de Finanças e
Tributação da Câmara dos Deputados;
- eleito, em 2001, presidente nacional do PMDB, principal
partido da então “base aliada” do PT (Governos Lula, 2003 a 2010, e Dilma, 2011
a 2016). Permaneceu por 15 anos e conquistou novo mandato, por mais dois anos,
em de 2016. Está licenciado;
- vice-presidente da República na eleição (2010) e reeleição
(2014) nas chapas encabeçadas por Dilma Rousseff (PT-RS);
- presidente da República interino de maio ao final de
agosto (quando foi efetivado), período do afastamento de Dilma, período do
curso do processo do impeachment. Dilma teve mandato cassado pelo Senado e
Temer foi efetivado em 30 de agosto;
- então, de forma direta, assinando Medidas Provisórias, ele
comunga atos, feitos e desfeitos da Presidência da República desde 1º de
janeiro de 2011.
Na praça da corrupção
Esse prosaico recheio de vida pública do Sr Michel Temer,
como agente em postos de mandos divididos entre os cardeais da Praça dos Três
Poderes, em Brasília, mostra caminhos de “culpa” com esse balaio de gatos em
que o país foi enfiado, de cabeça para baixo, por políticos sem escrúpulo. Esse
ambiente tem como principal fonte a recusa (também tolerada pelo povo) dos
poderes Legislativo (Congresso Nacional) e Executivo (Presidência da República)
em entregar ao país políticas que acabem, de vez, com a tolerância à falta de
ética e à corrupção institucionalizada. O Sr. Michel Temer é figura presente lá
não de hoje.
De Pelé (em 1974)...
Às vésperas das eleições (amanhã), a tirada de corpo de
Michel Temer, diante do filho feio, o desemprego de 12 milhões, repõe tinta no
carimbo que deu vida à frase cunhada pelo ex-craque de futebol Edson Arantes do
Nascimento, o “Rei Pelé”, ao lamentar a fragorosa derrota do partido da
ditadura militar, a Arena, no pleito de 1974. Naquele ano, o MDB, do saudoso
“doutor” Ulysses Guimarães, aplicou uma surra nos candidatos dos generais para
o Congresso. Foi um gigante protesto da Oposição. Marcado pelos milicos, por
ter se aposentado da Seleção, se recusado, exatamente naquele ano, a rever a
decisão (pedido de Ernesto Geisel, o general e ditador-presidente) e não
disputado a Copa da Alemanha (vencida pela Alemanha), tentou, depois de
apurados os votos, fazer um agrado à turma dos quartéis: “Brasileiro não sabe
votar!”.
...aos dias atuais (de 2016)
Lamentável, naquele contexto de luta pelo fim do regime de
exceção política, a frase do ex-camisa 10 mais aplaudido nos estádios de
futebol do planeta precisaria apenas de um singelo advérbio para retratar a
eleição de determinados elementos (outra lamentação) a partir do retorno das eleições
livres para todos os cargos, a começar por governadores (1982):
“Brasileiro (ainda) não sabe votar!”. O Sr. Michel Temer foi eleito e
reeleito no pós-ditadura.
Assuma, Temer
Os generais, em 1974, foram abalados pelos votos dados ao
MDB, de Ulysses Guimarães, e começaram a preparar, com o general Ernesto Geisel
(1974-1979), o recuo para os quartéis, que iria, mesmo assim, demorar uma
década. Mas permaneceram os mesmos senhores feudais dos votos, nestes 31anos
dos generais enfiados em pijamas para a política. O Sr. Michel Temer é um dos
coronéis (urbanos) dos votos. Então, Temer, embale que o filho (12 milhões de
desempregados) é teu, sim...