O ex-presidente Lula (Luiz Inácio Lula da Silva), do PT,
quis debochar de Sarney (José Sarney), senador do PMDB (aliado, por interesses,
do PT) e também ex-presidente, ou bebeu água com rótulo vencido quando comparou
o político do Maranhão (mas que elege pelo Amapá) a Ulysses Guimarães,
ex-presidente da Câmara dos Deputados durante a Assembleia Nacional
Constituinte de 1988. Sarney foi da sustentação da ditadura militar, que, com
golpe, em 1964, interrompeu a democracia no país. Sarney foi Arena (partido
criado pelos generais), PDS, PFL etc. Ulysses, deputado federal por São Paulo, esteve
sempre na resistência pela volta da democracia e na defesa (na primeira hora)
dos presos políticos e dos direitos humanos.
Lula pode, sim, puxar saco de Sarney, que não é mais eleito nem
em estado natal, domínio político da família, para manter o rebanho da banda
podre do PMDB fiel à candidatura da presidente Dilma Rousseff. Mas não tem o
direito de pisar na história construída por Ulysses. Lula não militava política
sindical nas ruas e Ulysses já passava noites em claro em delegacias de
polícia, no DOPS e DOI-Codi tentando libertar políticos dos porões da ditadura e
encerava a polícia nas ruas. E é bom que se registre isto: o clipping do
período de Lula no Palácio do Planalto (2003-2010)está
recheado de elogios seus aos generais ditadores. Até Emílio Garrastazu Médici, que
governou o período mais tirano dos milicos, tem as honras do dirigente petista.
A enorme besteira, em discurso na sessão de ontem do Senado,
de comemoração aos 25 anos da atual Constituição, dita por Lula, ao bajular Sarney
– um político que fez carreira nos moldes do coronelismo e senhor de engenho, e
que só entrou para o PMDB, e lá no Amapá, porque fora execrado por seus pares que
apoiaram o regime militar no Maranhão e outros estados - foi: "Eu tenho
consciência que o senhor não teve facilidade, muito menos moleza. Quero colocar
a sua presença na Presidência no período da Constituinte em igualdade de
condições com o companheiro Ulysses Guimarães". Sarney negociou benesses com
políticos para ficar cinco anos no poder (como os generais ficavam) e dar luz a
duas vaidades: estar sentado no Planalto durante a Assembleia Nacional Constituinte
(1988) e no centenário da proclamação da República do Brasil (1989).
Perguntem ao Lula onde estava o seu ídolo Sarney, em 1983
(ainda regime militar), enquanto Ulysses fazia campanha nas ruas pela volta das
eleições diretas para presidência da República. Então, senhor Lula, vossa
senhoria pode merecer José Sarney. Mas lembre-se, sempre, disso: a memória de
Ulysses Guimarães está acima (muitíssimo acima) dos senhores!...