quinta-feira, 20 de março de 2014

Randon e seus desafios

Enviado por Nairo Alméri – qui, 20.3.2014 | às 22h59 - modificado 22.3.2014, às 13h50
O ano fiscal de 2012 foi uma "base fraca de comparação".
A afirmativa virou lugar comum nos relatórios das diretorias das companhias abertas e avaliações dos analistas que avaliam ativos para o mercado de capitais. É um erro, pois promove a nivelação na gestão das empresas e aceitar como máxima sepulta um ano de planejamento, mudanças de rotas na produção e logística de uma diretoria e toda a linha de seus comandados.
Quando a diretoria da Randon S.A. Implementos e Participações apresentou o balanço patrimonial de 2013, os resultados financeiros nominais (com a inflação embutida) surgiram multiplicados por dois, três e até cinco, na comparação com o ano anterior. E é natural que tenham sido transformados no abre alas de todo o conjunto dos gráficos da recuperação do Grupo Randon - dez empresas dos setores de implementos rodoviários, veículos especiais, autopeças, vagões ferroviários e serviços (consórcio e banco). A performance foi acompanhada trimestralmente, ao longo do ano, tendo como destaque a assunção a 100% do controle das ações da fábrica da Suspensys Sistemas Automotivos Ltda (suspensão), também em Caxias do Sul (RS), com a compra dos papéis em poder ArvinMeritor Inc, dos Estados Unidos. A operação resultou em desembolso de R$ 296 milhões, mas que chegaram aos R$ 430 milhões, contabilizados outras contingências “(Foi o) Maior investimento que a Randon já fez em um só negócio”, comemorou o diretor presidente das empresas Randon, David Randon – filho do fundador, Raul Randon -, em encontro, semana passada, em São Paulo, com jornalistas. Assim, o total dos investimentos no ano somaram R$ 580 milhões, bem acima dos R$ 150 milhões projetados em janeiro de 2013. A Suspensys virou uma divisão dentro da Randon Implementos, a holding do grupo, e não terá mais limitações de mercados externos, impostas pelo ex-sócio.
Não se pode eleger mesmo pódio para todas as companhias no país. A Randon, por exemplo, com 17 plantas industriais, sendo seis no exterior, distribuídas por seis parques fabris – Brasil (3), Argentina (1), China (1) e Estados Unidos (1) – e três unidades industriais terceirizadas na África, lidera na América Latina o segmento de implementos rodoviário (carrocerias, reboque, semirreboque etc.). É um dos maiores globais na fabricação de materiais de fricção (pastilhas e lonas para freios e lonas para revestimentos de embreagem na indústria automotiva, ferroviária, elevadores, naval etc.), via controlada Fras-le S.A. (46,3%), que tem fábricas em Caixas do Sul, China e Estados Unidos. Essa controlada, que também tem ações do capital social listadas na BM&FBovespa, fornece itens originais para 95% das montadoras de automóveis, caminhões e ônibus instaladas no Brasil.
No balanço trimestral encerrado em setembro, a Randon sinalizava tranquilidade para seus acionistas. As variações nominais (não descontada a inflação anual) registradas no balanço consolidado final trambém transferiam segurança(aparente, ao menos) para executar o programa de 2014: receita bruta, R$ 6,620 bilhões (+23,7%); receita líquida, R$ 4,253 bilhões (21,5%); lucro líquido, R$ 235 milhões (452,3%); e, EBITDA (geração de caixa), e R$ 563,8 milhões (101,3%). O desempenho foi tracionado pelos negócios no tripé implementos rodoviários, autopeças e compras públicas federais de máquinas rodoviárias do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento). Em implementos rodoviários aparece a retomada das encomendas pelas montadoras de caminhões, diante de dois fatores: a supersafra de cereais e a manutenção das linhas do BNDES dentro do PSI (Programa de Sustentação dos Investimentos). Mesmo com a quase multiplicação por quatro nos investimentos, em cima dos valores previstos, o acionista viu seu lucro por ação passar de R$ 0,18, em 2012, para R$ 0,98.

Brasil, um “país difícil” 
Mas, claro, a assunção a 100% no capital da Suspensys e sua inevitável internacionalização, com uma provável fábrica em país no sentido da Ásia, coloca diante da diretoria da Randon mais desafios financeiros pesados, pois 2012 foi uma "base fraca de comparação". Deve-se acrescer a isso a conclusão, até a primeira metade de 2016, da fábrica vagões, implementos canavieiros e produtos especiais de Araraquara (SP), um parque misto para vagões ferroviários, implementos rodoviários e veículos especiais até 2016. Tanto a incorporação da Suspensys quanto o projeto de Araraquara estão no plano plurianual 2012-16, de investimentos de R$ 2,5 bilhões. Agora surge a expansão internacional da incorporada. “(A Suspensys) Vai criar parceiros fora”, disse o presidente da Randon, que, em situação posterior, foi complementado pelo diretor corporativo de Autopeças, Alexandre Gazzi, ao listar um rol de dificuldades para fazer comércio exterior a partir do Brasil (câmbio, impostos, preços internos de matérias primas, etc.): “Exportar, a partir do Brasil, está difícil... Tem gente boa do outro lado (do mundo). O foco (da Randon) é estudar África, Ásia e Europa. Exportar é, no momento, o ‘bode na sala’ da diretoria, pois o resultado de 2013, com US$ 242 milhões, 8,6% de queda, foi o segundo ano consecutivo de perdas de 18% e retorno ao patamar de 2010 (US$ 240 milhões).
O diretor corporativo de Implementos e Veículos, Norberto José Fabris, adicionou assim mais recheio à velha pauta que retira o equilíbrio operacional das empresas brasileiras: “Se não formos muito competitivos em aço, vamos continuar apanhando dos nossos amigos dos olhinhos puxados da Ásia”. Especificamente para o câmbio, comentou que o dólar norte-americano a R$ 2,40 “ajuda”, abaixo de R$ 2 “atrapalha”. “Temos que compreender que o Brasil precisa dar passos maiores”, apelou, ao sugerir que o Governo crie política comercial externa estável. Os custos da Randon com os produtos vendidos, no acumulado de 2013, somaram R$ 3,2 bilhões,  14,2% acima de 2012 (R$ 2,8 bilhões).
Como planejamento dos grandes grupos lançam olhares de longo prazo – e por isso são refeitos -, em 2013, dois meses após a incorporação da Suspensys, o Conselho de Administração da Randon aprovou a emissão de R$ 200 milhões em debêntures simples (não conversíveis em ações). Esse recurso, com remuneração de 100% da variação do CDI, teve carimbo em favor do alongamento da dívida de curto prazo e formação de capital de giro. Prevalece uma postura histórica do grupo, de contratar na mesa do gerente de banco, mas preferencialmente papeis de mercado – debêntures – e linhas Finame (BNDES), o que foi reafirmado pelo diretor Financeiro e de Relações com Mercado, Geraldo Santa Catarina, funcionário de carreira e que cumpriu, em 2013, seu primeiro exercício fiscal no cargo.

2014 começa com perdas e alerta
No decorrer de 2013, foi possível identificar mudanças em rubricas importantes do balanço patrimonial da Randon. No encerramento do terceiro trimestre na comparação com o final de 2012, o patrimônio líquido apareceu 16,2% inferior: saiu de R$ 1,857 bilhão para R$ 1,557 bilhão. Encerrou 2013 em R$ 1,642 bilhão, ou seja, inferior 11,6% em relação ao final de 2012 e, em relação a setembro, 5,45% superior.  No patrimônio líquido estão, além do capital social (dinheiro posto pelos acionistas da companhia), as reservas ou prejuízos acumulados. O endividamento líquido consolidado do grupo (deduz as receitas faturadas e aplicações – não as projeções) era de R$ 1,193 bilhão, 56,9%. Na relação com o EBITDA, ficou 2,12 vezes (em 2012, 2,27 vezes).
O diretor de Relações com Investidores manteve acesa a luz amarela, pois a opção do grupo sempre foi ter a geração de caixa como “desejo” para os investimentos e formação de capital de giro: “Por experiência, sempre que gente fica devendo mais que isso (acima de 2 vezes o EBITDA) para banco é difícil. A estratégia da companhia é não trabalhar com banco. Em separado, a “dívida industrial” da Randon evoluiu 4,5%, para R$ 983,8 milhões – na relação com o EBITDA, queda de 2,27 vezes, em 2012, para 1,78 vezes.
Esperei até agora para esta análise, uma semana após a divulgação dos resultados para a imprensa, pois queria conhecer o resultado da receita bruta acumulada pela Randon nos dois primeiros meses do ano. Ele foi encaminhado hoje (20) à Bolsa: R$ 903 milhões, 6,5% inferior ao de mesmo período em 2013. A receita líquida registrou queda de 3,6%, para com R$ 596 milhões.    
A partida para o dever de casa da diretoria da Randon, em 2014, inclui a aprovação de chamada de capital, dia 14 de abril, pela AGO dos acionistas, com uma elevação em R$ 470 milhões, na forma de bonificação em 25% para os acionistas – 1 nova ação para 4 detidas pelo investidor. O novo capital social romperá a barreira do R$ 1 bilhão, irá para R$ 1,2 bilhão. Pare este exercício, a diretoria da Randon projetou os seguintes números macros financeiros: receitas bruta, R$ 6,3 bilhões, abaixo dos R$ 6,6 bilhões de 2012; receita líquida, R$ 4,4 bilhões; exportações, US$ 260 milhões; investimentos, R$ 150 milhões.  A holding da família Randon, a DRAMD Administração e Participações Ltda, em somatório as parcelas individuais de seus sócios, controla 40,6% do capital total da Randon.

Mais implementos, menos vagões
Em 2013, as vendas de veículos rebocados pela Randon somaram 20.177 unidades, garantindo à marca 28,8% de participação do mercado doméstico (15.964, em 2012). Na linha de vagões, foram 322 unidades vendidas (862). Na carteira dos veículos especiais, foram faturadas 1.316 unidade (1.085). Melhor representado em valores que por unidades, o segmento de autopeças do grupo (Suspensys, Fras-le, Castertech, JOST Brasil e Master) teve receitas de R$ 1,9 bilhão (R$ 1,6 bilhão).
O Grupo Randon encerrou 2013 com 949 novos funcionários. Em 31 de dezembro o quadro total era de 12.115 pessoas, 8,5% a mais que o exercício anterior. As futuras instalações de Araraquara serão operadas por 2 mil funcionários.
A Randon foi fundada em 1949, pelos irmãos Randon (Raul e Hercílio – este falecido). Trabalhavam com a fabricação de ferramentas agrícolas e decidiram abrir uma oficina para reformar motores industriais.

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