Saindo de apuros: se escreve Eliezer, “mas se lê Ahmad”
Enviado por Nairo Alméri – ter, 19.6.2018 | às 18h45 - modificado às 19h47
Alguém, certa vez, definiu assim o engenheiro Eliezer
Batista da Silva: “Embaixador do mundo!”. Ouvi isso também de um funcionário na,
então, estatal Companhia Vale do Rio Doce S/A (CVRD), em dezembro de 1978, em Itabira
(MG), ainda principal província minerária da extração e beneficiamento de
minério de ferro da companhia. A expressão tinha dois vértices. O “doutor Eliezer”
(mineiro gosta de chamar “doutor” os ocupantes de cargos), tratamento dado
pelos funcionários da CVRD (privatizada em 1997; depois, virou Vale S/A), era
respeitoso e iluminava sua importância e inteligência de estrategista – nisso ele
era “doutor”, singular. E, segundo, porque era ele quem abria muitas portas
para o Brasil no mundo dos negócios. Isso graças, também, ao domínio de oito
idiomas* – entre os mais difíceis, na época, japonês, mandarim e russo, de
Moscou.
Uma coisa só
Falar da carreira do engenheiro Eliezer (Universidade
Federal do Paraná, 1948), sem deixar para trás detalhes importantes, é um
desafio que nem os excelentes biógrafos conseguiram. Sempre ficam (e ficarão) disponíveis
ângulos diferentes, memoráveis. Ele foi fonte inesgotável em cases de sucessos.
São sólidos aprendizados as referências registradas nos livros. A Vale, ou a CVRD, e Eliezer são gêmeos nas melhores fases da maturidade (ponto de equilíbrio do Grupo CVRD) e do crescimento. A companhia teve, sim, cabides de emprego, imposições do controlador majoritário: o Tesouro Nacional, a serviço da sede dos influentes em tantos (des)governos.
Mauá e Eliezer
Esse engenheiro, nascido em Nova Era, no Vale do Aço, em
Minas, em 1924, com todo o mérito à inteligência empreendedora (leiam a
história da CVRD e suas coligadas), foi o maior estrategista de negócios do
país, no Século XX. Depois de Barão de Mauá (Irineu Evangelista de Souza, 1813/1889), não houve outro por aqui empreendedor de enorme relevância - leiam sobre o Mauá e concluam. Eliezer presidente da CVRD pela primeira vez e ministro das Minas e Energia no Governo João Goulart. E ministro de Assuntos Estratégicos no Governo Collor de Mello. Mas, neste último, por tanta corrupção envolvendo o chefe do Planalto, sua passagem não encontrou interlocutores sérios nessa fase.
Um Welch perdido
Não fosse o Brasil o país com enorme vocação pelas oportunidades perdidas, por patrocínio dos roubos da classe política, Eliezer teria operado neste território continental milagre similar ao que a competência de Jack Welch (1935) empreendeu no Grupo General Electric, nos Estados Unidos. Welch assumiu, em 1980, um grupo multinacional quebrado e valendo US$ 12 bilhões na Wall Street. 20 anos depois, entregou aos acionistas uma GE saneada e avaliada em US$ 412 bilhões.
Esqueçam o filho
Eliezer Batista faleceu ontem (18/06), no Rio. A memória
do “doutor Eliezer” deve ser preservada e associada ao reconhecimento do legado
que deixou para o Brasil, nunca pelo barulho global de recentes fracassos de um
dos filhos!
Privilégio de um jornalista
O conheci Eliezer Batista na curta temporada que fiquei na CVRD (dez/1978 a março/1979), entre o Rio e Itabira, às vésperas dele assumir o segundo mandato. Depois, ele já empossado (março de 1979), tive o privilégio de entrevistá-lo por inúmeras vezes, como repórter de Economia (1979 e 1981-1992) do “Jornal do Brasil”, na Sucursal de Belo Horizonte. E também como colunista diário do Hoje em Dia (1997-2012).
*“Podia, dependendo da situação,
assumir outros nomes. Nos anos 70, no auge de mais uma das muitas crises entre
árabes e israelenses, fazia check in em um hotel na Árabia Saudita quando ouviu
de um desconfiado funcionário: "Eliezer é um nome judeu". Respondeu de imediato: "No meu país se escreve assim, mas se lê
Ahmad". Desconcertou o interlocutor e conseguiu o quarto”. (Folhapress
-18.06.2019)
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