quinta-feira, 28 de março de 2019

VALE - OUTRO ERRO COM AVISO PRÉVIO


Não basta entregar dinheiro. É preciso envolver uma orientação de gestão em alguma atividade (mesmo que informal), expertise que o Sebrae-MG desenvolve desde 1992


Enviado por Nairo Alméri - qui, 28.03.2019 |às 18h13 - modificado 10.08.2019
CÓRREGO DO FEIJÃO, Brumadinho (MG) - passados 60 dias de uma data que será sempre dolorosa para o povo deste arraial, pela perda perda de familiares, parentes, amigos, vizinhos e conhecidos na tragédia de rompimento de barragens na Mina Córrego do Feijão, em 25 de janeiro - às 12h28 -, problemas intangíveis vão se avolumando em paralelo ao trágico saldo: 216 mortos e 88 desaparecidos (Defesa Civil, 27/03/2019; 10h) A mina pertence à @Vale S/A, segundo maior grupo minerador do mundo e com ações do capital negociadas nas Bolsas @Nyse (Nova York) e B3 (@Bovespa). 

  • 248 mortos e 22 desaparecidos (Defesa Civil , 09.07.2019)
As vítimas são principalmente do Córrego do Feijão e condomínio Parque da Cachoeira. Também de outras localidades de @Brumadinho, de mais cidades mineiras, de fora de Minas e até do exterior. Foram atingidas dentro e fora da aérea da mina. Entre elas estão empregados diretos da Vale, de terceirizados, de fornecedores de serviços, turistas e funcionários que estavam na Pousada Nova Estância, moradores dentro de suas casas em áreas urbanas e propriedades rurais e quem transitava em estradas próximas. 

  • O mar de lama desceu do alto da serra do Pico Três Irmãos e fez um rastro (com 1 km  de largura, às vezes) de 10 km, até atingir o leito do Rio @Paraopeba. 

De lá para cá, mais pressionada pelos Ministérios Públicos Estadual e Federal e Defensorias Públicas Estadual e Federal, a Vale iniciou pagamentos para algumas pessoas: R$ 100 mil por pessoa morta; e doações de R$ 50 mil, por núcleo familiar dentro da chamada “zona de autossalvamento”, e, R$ 15 mil, por atividade econômica  interrompida). Também do “auxílio emergencial” determinada pelo TJMG , de 1 salário mínimo para os adultos residentes em Brumadinho e de outros municípios onde o Paraopeba foi poluído; 1/2 SM para adolescentes (12 aos 17 anos), 1/4 do , para crianças (abaixo dos 12 anos). E uma cesta básica (valor ao redor de R$ 400). O processo está lento, por causa dos critérios de cadastramento da Vale e dificuldades das pessoas no entendimento das instruções transmitidas pelos atendentes em central 0800, contratada pela mineradora. E limitações dos atendentes, que não têm acesso às “pendências” geradas pela Vale, precisando agendar atendimentos presenciais para os demandantes. Isso tudo gera transtornos às pessoas de pouca instrução.

Há, tanto de parte dos promotores dos MPs e DPs e da procuradoria da República em Minas quanto dos moradores, o sentimento de que a mineradora dificulta entendimentos e também que protela o cumprimento até dos despachos do juiz da Sexta Vara da Fazenda Publica do @TJMG. A tendência, entendem, é que haverá um agravamento quando as tratativas saírem da fase das doações e “auxílio emergencial” para das indenizações, que começam a ser ajuizadas, de forma individual (mas é esperada também uma ação coletiva, do MP). 

IRRESPONSABILIDADE SOCIAL EXTRA - Além dos descasos de boa gestão (Governança Corportiva), que levaram à tragédia, até esta data, a Vale não apresentou um só programa de interesse empreendedor e/ou orientação àqueles que receberão e/ou já receberam valores de maior ou menor monta. Nesse universo de famílias, há pessoas simples que não têm conhecimento suficiente sobre como administrar esses valores e gerir uma atividade de renda familiar à parte. Muitas famílias, até então, estavam habituadas aos salários mensais, em de R$ 1,5 mil, e, no máximo, até R$ 3 mil. De repente, tem e/ou terão em mãos importâncias 30 vezes maior.

A falta de orientação, torna essas pessoas e/ou famílias novamente vítimas: exposição aos aproveitadores, gastos descontrolados do dinheiro recebido e riscos de assaltos. E é previsível que, de forma silenciosa, isso fomentará uma pirâmide de caos social para curto e médio prazos. Na em que esse dinheiro extra findar, as pessoas poderão se ver diante de uma situação pior que anterior à tragédia, quando, bem ou mal, viviam em regime de estabilidade. Na hipótese de surgir um período sombrio, estarão à deriva: sem dinheiro, sem ocupação. Ou seja, presas fáceis às diversas ofertas de grupos ocupados com a marginalidade social. 

WILSON NÉLIO BRUMER - Ex-secretário de Estado de Desenvolvimento Econômico de MG, ex-presidente dos Conselhos de Administração da CEMIG, Light, BDMG, @CODEMIG, Indi, BHP Billiton do Brasil e da Siderúrgica Tubarão (privatizada e pertencente ao Grupo ArcelorMittal); ex-presidente executivo da mineradora Vale (ainda CVRD e antes da privatização, 1990-1992) e das siderúrgicas privatizadas @Usiminas (pulverizada) e Acesita (atual Aperam, @ArcelorMittal) etc. 

Eis um trecho do curriculum vitae do executivo nominado. Logo após a tragédia em @Mariana, em 5 de novembro de 2015, Brumer assumiu a presidência do Conselho da Fundação @Renova, criada pela Vale e BHP @Billiton, controladoras da mineradora @Samarco. Esta última, foi responsável pela tragédia, a partir de Bento Rodrigues, Mariana, quando ocorreu o rompimento de barragens de rejeito de minério de ferro. O vazamento de 24 milhões de metros cúbicos de lama causou a morte de 19 pessoas e o desaparecimento de outra. 

Os estragos ambientais e econômicos, a partir da Samarco, se estenderam pela Bacia do Rio Doce até a sua foz, no litoral do Espírito Santo, cujas indenizações, de variadas naturezas,  não foram liquidadas até hoje. Isso têm sido um teste à capacidade na atuação dos promotores do MP (Estadual e Federal) e procuradores da República, que não conseguem romper as barreiras das protelações bem construídas pelas três mineradoras no Judiciário. A Fundação Renova tem sido o cão de guarda da Vale, @BHP e Samarco nesse universo de embaraços em desfavor dos afetados e prejudicados.

EXPERIÊNCIA DE BRUMER NA ACESITA - Mas se @Brumer preside uma Fundação que é alvo das críticas, de agir contra os interesses de vítimas dos Grupos BHP e Vale, onde caberia destacá-lo neste contexto? De 1992 a 1998, ele foi incumbido pelos grupos econômicos controladores do capital da então Cia. Aços Especiais @Itabira (Acesita), de enxugar a máquina do Grupo Acesita: siderúrgica, forjas e energética. Na época, o Grupo @Acesita tinha cerca de 8 mil empregados, sendo redor de 230 em cargos de chefia. O universo de chefes assustou aos novos donos.

No segundo ano à frente da Acesita, Brumer tinha elaborado o plano com objetivo de reverter prejuízos operacionais e financeiros do grupo. Os cálculos apontavam para um desembolso ao redor de US$ 50 milhões em demissões.
Mas o problemas não cessavam aí. Brumer previa algo pior, caso a Acesita não assumisse a dianteira e apresentasse um programa de oportunidades para os demitidos de aplicação, de forma segura, dos recursos financeiros com as rescisões trabalhistas. O temor era o de que os demitidos gastassem o dinheiro em viagens, temporadas nos litorais baiano e capixaba, aquisição de bens imóveis etc. Ao final, a cidade de Timóteo, no Vale do Aço, teria um bolsão de desempregados, falta de oferta de novas oportunidades e, provavelmente, aumento descontrolado da violência.
O então presidente da Acesita recorreu ao presidente do Conselho Deliberativo do @Sebrae-MG, empresário Stefan Bogdan Salej, em busca de apoio. O Sebrae-MG elaborou um projeto que indicava o incentivo ao surgimento de pequenas indústrias transformadoras dos aços da Acesita e de uma cadeia local de fornecedores de bens e serviços para siderúrgica. A proposta foi a inspiração para criação da primeira AD -Agência de Desenvolvimento, do interior de Minas, em parceria com a Prefeitura Municipal. Da iniciativa de Brumer, surgiram, de imediato entre 15 a 20 propostas de empresas novas no município.

E @BRUMADINHO? - Não se entende o porquê de a Vale não ter recorrido ao mesmo Brumer e preparar, ao menos, as pessoas do Córrego do Feijão e Parque da Cachoeira, áreas mais afetadas de Brumadinho pelos rompimento das barragens, para gerar um programa de como melhor gerir o dinheiro. 

O gerente de uma empresa me confidenciou a sua preocupação: perder um bom funcionário que recebe, para sua função (conforme o plano de cargos), R$ 1.500 por mês (mais benefícios). Na família dele, durante um ano, a renda familiar, por conta do “auxílio emergencial” da Vale, de 1SM, saltará para R$ 6 mil (4 pagamentos de 1SM). “A empresa pode perder esse funcionário”, prevê o executivo, apontando para um lado negativo que a massa de dinheiro da Vale, sem orientação previa, patrocinará. Observa que é preciso mostrar às pessoas que “um ano (período da doação) passa” e que (essa situação) não será uma ocupação, para sempre”. 

As tragédias, em Mariana e no Córrego do Feijão, até que a Vale prove o contrário, surgiram em erros calculados. Sabidos. Será que a Vale cometerá mais um. Agora, distribuindo dinheiro, feito programa de uma rede de televisão?



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