(PARA RELER)
Enviado por Nairo Alméri – sáb,
15.3.2014 -| às 20h11 - modificado às 20h20
Políticos de hoje rasgam (boas)
lições deixadas por brilhantes raposas do passado. Com poucas margens para
erros, pode-se acreditar que a política e atividades correlatas não teriam
subido tão alto no trampolim da desmoralização e do descrédito como nos últimos
quase 30 anos, se tivéssemos ainda algumas personalidades que se foram nas
décadas 80 e 90. Esta rota da redemocratização teria sido abreviada, nem
sobreviveria tanto uma Suprema Corte prestadora de honras a senhores de
engenho. Nossa sociedade “republicana” já teria sepultado a geografia dos poderes
das capitanias hereditárias.
De forma descarada, a cidadania é
agredida por políticos que se autoproclamam “históricos” e/ou “testemunhas” da
história, numa oratória (falsa) de pura sustentação da perpetuação das mazelas
que os mantêm poderosos. Alguns querem o apogeu: figurar entre juízes da
história dos anos de chumbo da ditadura, quando, na verdade, viveram em zonas
de conforto patrocinadas pela própria ditadura. Não tiveram relevância em suas
“células da resistência” (cumpriam tarefas domésticas: limpavam a casa ou eram,
no máximo, “escalados” para pegar o pão na padaria). Outros só deram as caras
em 1978, quando o general Ernesto Geisel percebeu que os milicos tinham
ultrapassado nos exageros e ordenou ao 2º Exército baixar o grau dos métodos das
atrocidades dentro da “Operação Bandeirante - OBAN”. Neste estágio, Geisel
permitiu sindicatos nas ruas e portas das fábricas (a paulada continuava, mas
os sindicalistas presos do ABC paulista podiam dar entrevistas e receber pão
com mortadela e Coca-Cola), e elaborou o “para casa” da “distensão política”
entregue ao último general do Planalto, João Figueiredo (1979-85).
Os “caciques” de hoje ainda montam
feudos pela Câmara e Senado, estados e municípios. Esses não merecem sequer
olhar para as fotografias dos chinelos de políticos que, em momentos críticos,
foram “históricos” para redemocratização - alguns deste, é verdade, até
estiveram ao lado do golpe militar de 1964.
Entre os que foram imprescindíveis
na luta pelo restabelecimento dos esteios da democracia estiveram Ulysses
Guimarães (o “doutor Ulysses”, que presidiu a Câmara e Assembleia Nacional
Constituinte de 1987/88 e que fez inserções pelas prisões em busca de
perseguidos pelos militares), Tancredo Neves (lembrado assim em discurso do
senador Pedro Simon (PMDB-RS), em 20 de abril de 2005: “A luta de Tancredo
começou em 1954. Ele era um jovem ministro quando houve o golpe que levou o Dr.
Getúlio Vargas ao suicídio. Antes, ele havia pedido: “Nomeie-me Ministro do
Exército no lugar desse traidor que é o General Zenóbio. Garanto que o golpe
não sai, e Vossa Excelência ficará na Presidência.” Dr. Getúlio, não querendo
uma guerra civil, preferiu o suicídio”), Nelson Carneiro (propôs, relatou e
conduziu a votação da Emenda Constitucional nº 4, que instituiu o
parlamentarismo no Brasil, em 1961), Franco Montoro (defensor do
parlamentarismo e da descentralização do poder. Promoveu a campanha das
"Diretas Já" em São Paulo), Teotônio Vilela (“O Menestrel das
Alagoas” - no início de 1983, ainda sob o regime da ditadura, o senador, um
usineiro golpista, em 1964, bandeou para o lado da bandeira da luta democrática
e, em programa de TV, surpreendeu ao lançar o movimento nacional pelas eleições
diretas, às “Diretas Já”, para a Presidência da República), Petrônio Portella
(senador do Piauí. Foi o condutor da “Missão Portela”, fez o remanso necessário
à “distensão política”, peça chave para a anistia, em 1979, dos cassados pela
ditadura militar, 1964-1985), Paulo Brossard (o “minuano verbal dos pampas”. O
parlamentar gaúcho provocava quase um feriado nacional, nas tardes em que subia
à tribuna do Senado, e, em pausados pronunciamentos, atacava com brilho e
inteligência singular, e em linha frontal, os generais e defendia a reposição
da democracia. Na política, até com olhar, Brossard balançava as estruturas do
poder. Na economia, ditava a tendência dos indicadores da Bolsa, no fechamento
do dia e abertura seguinte – apimentava ou adoçava o “humor do mercado”, dos
investidores), etc.
'Rouba, mas faz'... 'estupra, mas
não mata'
Hoje, os tidos “melhores quadros”
políticos seguem rotas pessoais e planos de partidos ou de suas correntes
internas, verdadeiras corretoras perseguindo o dinheiro público. São raras as
exceções. Os partidos se comportam, todos, como uma sociedade comercial
limitada, de capital fechado, cuja totalidade da integralização das cotas
deverá sair sempre de um não cotista: o conjunto de cofres públicos da União,
Estados e Municípios. Os líderes, os mais espertos entre os “melhores quadros
políticos”, exercem funções de CEOs das “correntes”. Estas são geridas como
subsidiárias das holdings, representadas pelos comitês nacionais,
estaduais e municipais. As subsidiárias são o “chão da fábrica” e de lá sai a
produção seriada (aprovada por headhunters dos sindicatos filiados), a indicação
dos “melhores quadros” que incham a administração pública com os cabides de
emprego. A expedição, a logística, cabe, às vezes, aos movimentos sociais e
ONGs. Estes abastecem os atacados e o varejo do vamos nos arrumar (vamos
assaltar). Assim funciona o cluster (ou APL – Arranjo Produtivo Local) da
invernada dos salários e patrimônios pessoais entre enorme parcela de políticos
e seus apaniguados, apontam denúncias formalizadas e em processos abertos nas
Procuradorias Gerais da República e Tribunais de todas as instâncias.
O país não merece mais continuísmos
nefastos. Nem ter inquilinos nos Executivos adeptos da clássica tese do “rouba,
mas faz”. O mesmo político, o deputado Paulo Maluf (PP-SP), que recebeu do
leitorado paulistano aquele rótulo, que, também, resume o espírito nacional da
sua classe (classe porque os políticos deram aos mandatos eletivos formato de
empregos, viraram contratados da Nação mais de R$ 100 mil por mês, no
Congresso, 14º salário; fundo de pensão; aposentadora integral; etc. É situação
melhor que para muitos executivos da iniciativa privada dentro d empresa como
Fiat Automóveis, Embraer, Votorantim, Bradesco, Itaú, TV Globo, General Motors,
Ford, Volkswagen, Anglo American, Vale, Basf, Bayer, MRS, ALL, etc.), foi
decisivo na eleição, em 2012, do prefeito Fernando Haddad, em São Paulo.
Luiz Inácio Lula da Silva (do
PT-SP e ex-presidente da República) levou Haddad (seu ministro da Educação e
também de Dilma Rousseff – PT-RS) até os jardins da casa de Maluf. Os três
posaram para foto (registro histórico) do aperto de mãos, o da celebração do
apoio do PP ao PT. Aliado recente do PT, em 1989, quando concorreu pelo PDS,
nas primeiras eleições livres pós-ditadura para a Presidência da República,
Maluf banalizou a violência contra a integridade física e moral das mulheres:
“O que fazer com um camarada que estuprou uma moça e matou? Tá bom, tá com
vontade sexual, estupra, mas não mata!” (palestra na Faculdade de Ciências
Médicas, em Belo Horizonte, registrada pelo “Jornal do Brasil” - repórter Lúcia
Helena Gazolla). Ouça aqui.
Imaginem o Brasil um país sério.
Em todos os parâmetros. E com uma sociedade sob os impérios das leis -
democracia sólida. Agora responda: você encontraria neste Brasil real, o dos
escândalos, corrupção e impunidades (ou punição para inglês cego ver),
candidatos para entregar, via pleito, em 5 de outubro de 2014, o comando do
imaginário Brasil escandinavo?!... E quais as chances dos eleitos, uma vez
empossados no Brasil escandinavo, no dia seguinte, não virarem candidatos à
bancada parlamentar do Complexo Penitenciário da Papuda?
Rodapé de palanque
Em Tempo: o calendário de 2014 foi
o norte em duas recentes decisões eleitoreiras do Governo Dilma.
1) Jogou com a “base parlamentar”
de sustentação do PT e sepultou, na Comissão de Constituição e Justiça do
Senado, o projeto da redução da menor idade penal, para 16 anos, nos crimes
hediondos, tráfico de drogas com uso de violência ou reincidência em crimes
violentos. Entre os brasileiros abaixo dos 18 anos (os “menores”) e acima dos
16, está uma nação de, no mínimo, uma dezena de milhões de eleitores. São
cidadãos exemplares e também de criminosos bárbaros (com requintes de adultos
no crime). No Brasil, esse contingente pode definir a escolha do presidente da
República, e pode matar e não ir para cadeia;
2) Transferiu para 2015 a cobrança
extra e inconstitucional de R$ 12 bilhões (valor do “socorro às energéticas”)
nas contas de uma energia elétrica que não passou pelos relógios dos pontos de
consumo – residências, indústrias, estabelecimentos comerciais e de serviços. A
“crise” e os “apagões” no abastecimento são responsabilidades das
concessionárias geradoras de energia e do Governo (dos Ministérios das Minas e
Energia, do Planejamento e da Fazenda). A origem da situação é a “falta de
planejamento”, mesma fatura jogada nas costas do Governo Fernando Henrique
Cardoso (PSDB-SP), no
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