Agosto foi implacável com o Banco Rural. A decretação de
liquidação extrajudicial, pelo Banco Central, não tirou de cena apenas uma
instituição que estava pendurada num dos maiores escândalos de corrupção
política já sabidos na História do Brasil – desde Pedro Álvares Cabral -, o
chamado “mensalão do PT”. O caso explodiu em maio de 2005, quando a revista
“Veja” publicou fotos um diretor dos Correios, Maurício Marinho, recebia maços
de dinheiro de empresário. Mas a primeira denúncia dessa jazida de corrupção,
envolvendo o PT e o PTB, data de setembro de 2004, feita pelo deputado Miro
Teixeira (PDT-RJ), que apontou “esquema” de pagamentos, na Câmara dos
Deputados, para garantir a votação de matérias do interesse do partido
governista e do Palácio do Planalto. Pelos autos dos processos e votos dos
ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), a liquidez financeira do
“mensalão” girava numa engenharia orientada principalmente no Diretório
Nacional do PT, Casa Civil da Presidência da República, agência de publicidade
SMP&B (do empresário Marcos Valério) e escritórios do Rural. A partir de
então, sempre que as citações “mensalão” ou “esquema Marcos Valério-PT” entravam
no noticiário e sessões da Justiça, em todas as instâncias, o banco sofria um leque de erosões em seus ativos. O esquema tem novo round agendado, no STF, Câmara dos
Deputados e Palácio do Planalto para este mês – o mês de grandes azares
políticos na história do Brasil.
O defunto é, mesmo, do BC?
Um ditado mineiro (ouvi, a primeira vez, do jornalista
Adriano Souto) afirma: “Atrás do morro, tem morro”. Trazendo cenários para a
liquidação do Rural, ignorando os efeitos da corrosão política, desde 2005, e
dando ênfase apenas aos ditos descompromissos com a autoridade monetária (o BC),
a impressão é a de que o Governo Dilma deseja transformar em defunto o duto da
corrupção do mensalão do PT. Na Justiça, morto sai do processo. Mas, se for
mais um lance político, o Planalto poderá repetir trapalhadas recentes, quando
pirou diante da revolta das roletas (tarifas de ônibus): corroborou com os prefeitos
de São Paulo (PT) e do Rio (PMDB – principal aliado), que as passagens tinham
preços justos; sacou da cartola um plebiscito e um referendo, em vez de abrir
discussão ampla com a sociedade por uma reforma política, ao perceber que as
manifestações das ruas comeriam o fígado de todos os políticos; mandou o PT e a
CUT se misturar aos jovens insatisfeitos, quando diziam que o movimento não
tinha partido; contra-atacou opositores do programa “Mais médicos”, com dois
anos no curso de Medicina; mesmo sob chuva e sobre um mangue (criminosamente aterrado),
insistiu com planos de deslocamento de tropas das Forças Armadas para o “campo
da fé”, em Itaguaí, no Rio, onde o para Francisco compareceria, quando deveria
ter impedido uso da área (o que aconteceu faltando poucas horas) antes mesmo de
o chefe do Vaticano tocar o solo brasileiro. O Governo teve que recuar geral em
tudo. A questão é: apenas o Rural descumpria, até sexta-feira (2), a cartilha
do BC, ou este aceitou enterrar defunto alheio?!... Resposta: É óbvio que dirá
que o falecido está na sua cota. Mas... o BC não poderia ter feito isso há muito
tempo, no auge da crise para o para o Rural? A sua saída de cena neste momento (horário) político gera questionamentos também
óbvios.
Lehman Brothers, só motivos financeiros
No próximo 15 de setembro, o mundo financeiro vai lembrar o
5º ano de saída de cena daquele que foi o mais antigo (fundado em 1850) e o 4º
maior banco de investimentos dos Estados Unidos, o Lehman Brothers Holding Inc.
Ele sucumbiu ao tsunami da quebra das administradoras de hipotecas de alto
risco do mercado imobiliários dos EUA, as subprime,
em 2008. A crise, a bem da verdade, teve início em meados de junho de 2007, mas
dava sinais desde 2003. Porém, não foi levada a sério pelo Federal Reserve (FED
– o banco Central dos EUA). O desleixo da autoridade monetária norte-americana patrocinou
a maior crise financeira do planeta. Em 15 de setembro de 2008, o bancão pediu
sua concordata. Até se render, o Lehman teve um purgatório de seis meses, a
partir do vazamento de que corria atrás para cimentar rombo de US$ 5 bilhões – US$
7,5 bilhões na véspera da quebra. A ladeira ficou lisa para o banco, na fase
mais aguda da crise para as administradoras imobiliárias, quando teve sustentar
elefante e fio de teia de areia: tinha subsidiárias com carteiras de títulos
derivativos de hipotecas imobiliárias com invejáveis US$ 54 bilhões. Em
derivativos (títulos diversos sem garantia dos governos e sem seguros; opções de opções; etc.), na
época, todas as bolsas do planeta e balcões de negócios de títulos giravam US$
62 trilhões (uma pirâmide de papéis). O Lehman não foi salvo porque o FED tinha
outros pacientes mais graves e estratégicos do sistema financeiro para curar:
federalizar a maior seguradora do país, a AIG, onde injetara US$ 80 bilhões, e
duas administradoras hipotecárias, a Fannie Mae e a Freddie Mac. Estas empresas
respondiam por US$ 12 trilhões no mercado hipotecário local - quase 50% de tudo.
Como o Bank of American, por sua vez, optara por salvar o banco Merrill Lynch
(US$ 50 bilhões), diante da recusa do FED em colocar recursos no Lehman, o
velho banco jogou a toalha. No dia dessa quebra, o FMI emplacou que na cratera
financeira do mundo cabia com folga o PIB dos EUA: US$ 10 trilhões.
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