Enviado por Nairo
Alméri – seg, 25.3.2013 |às 14h17
Em setembro de 2011, na coluna diária de economia que eu
assinava no jornal “Hoje em Dia” (“Negócios S/A”), de Belo Horizonte, tratei do
descumprimento “cláusula” de contrato pelas atuais concessionárias ferrovias a
respeito do transporte de passageiros. Pois bem. Na semana passada, em
Brasília, reuniram-se representantes da Associação Nacional das Transportadoras
Ferroviárias (ANTF), de um lado, e dos Ministérios dos Transportes e o do Planejamento,
Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT), Agência Nacional
de Transportes Terrestres (ANTT) e da Empresa de Planejamento e Logística (EPL –
estatal que o Governo Dilma criou para gerenciar o PAC da Logística). Na pauta
apenas o interesse das concessionárias pelo uso de áreas (patrimônio) da União
que estavam com a extinta Rede Ferroviária Federal S/A (RFFSA) e não constaram
nos editais de privatização, em 1996. As empresas querem usar essas áreas para expansões
da malha e dos pátios de manobras. Para isso, então, o Governo baixou o Decreto
7.929/2013, denominado “Reserva Técnica”, criando condições para entrega do
remanescente. Da agenda e das conversas entre representantes do Governo e das
concessionárias, não constou absolutamente nada sobre a obrigatoriedade de
abertura da malha para volta do transporte de passageiros.
Ferrovias têm que abrir linhas para passageiros; MRS e FCA
indiferentes
Nairo Alméri – Hoje em
Dia, “Negócios S/A” - 26.9.2011
As empresas ferroviárias concessionárias descumprem uma
cláusula nos contratos de privatização, a partir de 1996, das malhas que
pertenceram à Rede Ferroviária Federal S/A, que obriga a criação de linha de
passageiros. A grita parte de um grupo de prefeitos do Sul do Estado do Rio de
Janeiro. Esse assunto já foi tratado aqui, mas sem o conhecimento de tal
"cláusula". Na quarta-feira, em demanda da coluna, a Agência Nacional
de Transporte Terrestre (ANTT) confirmou, via assessoria de imprensa, a
existência da "cláusula", mas sem revelar o artigo nos contratos -
que fora solicitado.
No dia 20 de julho, a ANTT deverá revelar o novo "marco
regulatório" para o setor ferroviário.
No Estado do Rio de Janeiro, os prefeitos de Volta Redonda (Antônio Francisco Neto), Resende (José Rechuan) e Barra do Piraí (José Luis Anchite), há algum tempo, tentam junto às concessionárias MRS Logística (controlada por um pool de empresas, incluindo Bradesco, Usiminas e Vale) e Ferrovia Centro Atlântica (FCA - 1 da Vale) viabilizar o retorno de vários ramais de passageiros, inclusive entrando em Minas Gerais (até Andrelândia, na Serra da Mantiqueira). Mas, conforme relataram ao jornal "Diário do Vale", enfrentam dificuldades com as empresas e a ANTT. O diário diz que as concessionárias admitiram conhecimento da "cláusula".
No Estado do Rio de Janeiro, os prefeitos de Volta Redonda (Antônio Francisco Neto), Resende (José Rechuan) e Barra do Piraí (José Luis Anchite), há algum tempo, tentam junto às concessionárias MRS Logística (controlada por um pool de empresas, incluindo Bradesco, Usiminas e Vale) e Ferrovia Centro Atlântica (FCA - 1 da Vale) viabilizar o retorno de vários ramais de passageiros, inclusive entrando em Minas Gerais (até Andrelândia, na Serra da Mantiqueira). Mas, conforme relataram ao jornal "Diário do Vale", enfrentam dificuldades com as empresas e a ANTT. O diário diz que as concessionárias admitiram conhecimento da "cláusula".
A ANTT deu respostas vazias para o assunto.
"Realmente existem cláusulas nos contratos de concessão
(excluindo-se os contratos da Vale, na Estrada de Ferro Vitória Minas e na
Estrada de Ferro Carajás, que já realizam o transporte ferroviário de
passageiros), em que as concessionárias são obrigadas a abrir janelas para
"apenas dois pares de trens diários", dando preferência de tráfego
aos mesmos, em conformidade com o Regulamento do Transporte Ferroviário.
Entretanto, acreditamos (logicamente que dependemos de estudos mais
aprofundados de demanda para confirmar tal hipótese) que essas duas janelas não
seriam suficientes para a maioria dos pleitos apresentados", respondeu a
ANTT à pergunta sobre a existência da cláusula citada pelos prefeitos.
Projeto amplo
Na questão sobre o que poderia fazer para que as
concessionárias atendam aos pleitos das prefeituras, a ANTT respondeu:
"Todos os pleitos consistentes e fundamentados de implantação de
transporte de passageiros em vias concessionadas para o transporte de cargas
tiveram sucesso. Para isto foi inserida a citada cláusula. É importante que
sejam feitos estudos completos onde fique definida uma série de questões como
origem/destino, demanda a ser atendida, horários, frequência, tarifa,
especificação do material rodante e sua compatibilidade com as características
operacionais da ferrovia, plano de contingenciamento de risco, adaptações e
melhorias das estações. Importa ressaltar que no trecho que corta os municípios
de Barra do Piraí e Volta Redonda, o de maior densidade de tráfego da malha
ferroviária do Brasil, circulam em média 80 trens por dia".
Chega a Minas
O prefeito de Volta Redonda diz que tentou convencer as
empresas a implantarem o trem de passageiros ligando bairros ao Centro. O de
Resende conta que desenvolveu projeto técnico, incluindo incentivo ao turismo,
mas que encontrou "obstáculos" nas operadoras das ferrovias. O
prefeito de Barra do Piraí também declarou apoio ao retorno dos trens de
passageiros, pois facilitaria a viagem de trabalhadores da capital para as
empresas do município.
José Rechuan disse que procurou pelo Consórcio Cercanias,
formado por 15 municípios de São Paulo, Minas e Estado do Rio, em busca de
parceiros no empresariado da região para ativar dois trens: Volta
Redonda-Aparecida do Norte (SP), e Andrelândia (MG)-Barra Mansa (RJ), podendo
ir até Angra dos Reis (litoral Sul Fluminense), com partida de Resende. Essa
proposta, de acordo com o prefeito, está na mesa da ANTT.
Concessionária nega a obstrução
Concessionária nega a obstrução
O gerente geral de Concessão e Arrendamento da MRS, Sérgio
Carrato, nega que tenha recebido o pleito das prefeituras fluminenses.
"Nunca chegou documento nesse sentido. Eu desconheço", frisou.
Sérgio Carrato admitiu que a cláusula prevê que a
concessionária é obrigada a "disponibilizar dois horários", mas que
"o equipamento (a composição de passageiros) é por conta de quem quer
fazer o transporte". Ele cita a Resolução 359/2003 da ANTT, mas que trata
de "procedimentos relativos à prestação não regular e eventual de serviços
de transporte ferroviário de passageiros com finalidade turística,
histórico-cultural e comemorativa", sem citar o transporte regular de
passageiros. O gerente da MRS insistiu que a empresa não pode ser apontada como
obstáculo ao pleito dos prefeitos. "Não temos qualquer pedido (para
transportar passageiros) e não estamos autorizados. A concessão dada pela União
é para carga", concluiu.
FCA
FCA
A ferrovia controlada pela Vale também não esboça interesse
com a operação do trem de passageiros reivindicado pela frente de prefeitos de
Volta Redonda, Resende e Barra do Piraí. "A FCA esclarece que seus
contratos de concessão e arrendamento são exclusivos para o transporte
ferroviário de cargas, não prevendo o transporte de passageiros", diz nota
liberada pela assessoria de imprensa. A empresa menciona as operações com os
trens turísticos (finais de semana e feriados ) em cidades históricas: Ouro
Preto-Mariana e São João del Rei-Tiradentes.
Com a ANTT
Com a ANTT
Na mesma linha da MRS, a empresa da Vale diz apenas que
"participa de discussões que fomentam a realização de trens de passageiros
em sua malha". Mas deixa claro, também, o que não assumirá a dianteira:
"(...) os interessados precisarão obter as devidas autorizações da ANTT
para os transportes eventuais e/ou turísticos".
Seminário em SP
Seminário em SP
No dia 1º de julho, em São Paulo, será realizado o Seminário
Concessão de Ferrovias - Impactos do Novo Modelo para a Infraestrutura, com
foco na situação paulista. Não consta do programa a utilização da malha
existente para operação de trens de passageiros.
700 obras
700 obras
O programa do evento paulista cita a perspectiva de
ampliação dos atuais 29 mil km de malha para 40 mil km, até 2020. O gargalo
ferroviário existente no país representaria uma demanda reprimida para 700 obras
para a iniciativa privada.
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